A Guerra do Paraguai foi o conflito mais longo da história da América Latina, que teve como consequências um grande saldo de mortos, a repaginação das fronteiras dos países envolvidos e modificações internas muito importantes em cada um deles.
Travada entre dezembro de 1864 e março de 1870, ela teve como uma de suas marcas principais a ousadia de um país pequeno e isolado que enfrentou as duas maiores nações da região. Este país tinha como líder um gorducho e colérico presidente, que admirava figuras como Napoleão Bonaparte, o imperador dos franceses e conquistador da Europa.
Sua sanha era imitá-lo. Era fazer sair do marasmo econômico o seu país e, ainda por cima, se impor aos vizinhos mais parrudos. Seu nome era Francisco Solano López, o presidente vitalício da República do Paraguai.
Filho de Carlos López, Solano foi educado para governar. Ingressou no exército paraguaio ainda criança e aos 19 já tinha chegado ao comando das tropas. Ao visitar a Europa, conheceu os modelos francês e prussiano de combate e passou a reorganizar a sua força armada. Na sua cabeça, o Paraguai precisava disso para se valer diante dos vizinhos.
E ele tinha razão. Independente desde 1811 do Reino de Espanha, somente na década de 1840 o Paraguai teve sua autonomia reconhecida pelo Império do Brasil e pela República Argentina. Ambos tinham territórios em disputa contra o Paraguai e a navegação pelo rio que dá nome ao país era motivo de controvérsia entre os três.
Sem falar que a região que abriga as três nações e o Uruguai, conhecida como Cone Sul, era muito instável. Na verdade, era um barril de pólvora que a qualquer momento - e por qualquer motivo - explodia em guerra.
O Brasil mesmo já tinha se envolvido em dois conflitos antes de 1864:
em 1825-1828, contra as Províncias Unidas do Rio da Prata;
em 1851-1852, contra a província de Buenos Aires.
Diante disso, o Paraguai procurou se fortalecer. Isso não se deu apenas pelo desenvolvimento militar, mas também pela diplomacia. Solano López, durante a década de 1850, buscou apaziguar ânimos da região, principalmente em conflitos internos da Argentina.
Ele só não contava com uma turbulência política uruguaia, que escalou para um conflito armado na década de 1863 entre os partidos blanco e colorado e teve a interferência de Argentina e Brasil. À época, o presidente da Argentina era Bartolomé Mitre, que foi apoiado pelos colorados na guerra civil argentina anos antes e devolveu o apoio.
A interferência brasileira se deu pela quantidade de brasileiros presentes no Uruguai. Eles pressionaram para que o Império apoiasse os colorados. Além disso, estes eram liderados por Venâncio Flores, antigo aliado dos brasileiros na região. Deste modo, o Brasil seguiu os argentinos e interveio militarmente.
Sozinho entre dois gigantes, o governo oficial do Uruguai buscou auxílio paraguaio. Solano López viu a oportunidade de realizar suas expectativas. Aproximou-se ainda mais dos adversários de Mitre na Argentina e oficializou seu apoio aos blancos uruguaios, lançando um ultimato ao Brasil para que não invadisse o território uruguaio.
Os soldados brasileiros ignoraram o aviso e invadiram o Uruguai em 16 de outubro. Com isso, o Paraguai capturou um navio com o presidente da província do Mato Grosso a bordo.
Os dois países romperam relações e em 13 de dezembro de 1864 o Paraguai declarou guerra ao Brasil e invadiu o Mato Grosso. Em seguida, invadiu a Argentina, a fim de chegar ao Rio Grande do Sul, depois de ter a passagem negada pelo governo de Mitre. Isso levou a Argentina a entrar no conflito ao lado do Brasil.
A entrada do Uruguai na guerra se deu pela ligação com o governo brasileiro, que tinha colocado os colorados no poder.
Após mais de 5 anos de conflito, o Paraguai perdeu os territórios em litígio para Brasil e Argentina. Isso o deixou com menos de 60% da sua antiga extensão. Sua população teve perdas significativas, sendo reduzida em 20% nas contagens conservadoras. A economia foi arrasada, seu exército foi desarmado e suas bases foram desmanteladas.
Apesar da vitória e dos ganhos territoriais, Argentina e Brasil se endividaram com bancos europeus para poderem custear a guerra. Além disso, o exército se fortaleceu no Brasil e se tornou uma instituição problemática, interferindo em questões políticas até que proclamasse a república em 1889.
Referências:
Bethell, Leslie. O Brasil no Mundo. in: Carvalho, José Murilo de. A Construção Nacional (1830-1889). História do Brasil Nação, vol. 2. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.
LIMA, Luiz Octavio. A Guerra do Paraguai. São Paulo: Planeta, 2016.
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