O maior erro do processo de Independência do Brasil ocorreu após o Grito do Ipiranga e foi fruto de decisões tomadas pelo próprio Dom Pedro I. E para entender isso teremos que voltar antes no período em que a Corte Real Portuguesa veio para o Brasil.
Em 1807, nos bastidores da política internacional, Inglaterra e Portugal firmaram um acordo para colocar em prática a fuga do rei para a maior de suas colônias. Como Portugal estava desesperado e sem alternativas, a Inglaterra teve nisso uma gigantesca oportunidade de definir os termos deste tratado de maneira muito favorável a si própria. Assim sendo, o país que era a maior potência do mundo, passou todo o Período Joanino (1808 - 1821) tendo vantagens significativas em suas relações comerciais com o Brasil.
Portugal estava na pior posição possível para um país poder negociar, não existiam muitas possibilidades, não tinha-se tempo e a principal contraparte possível estava relacionada à economia do Brasil. Com isso, depois de conquistar a inacreditável façanha de ter uma taxa de exportação menor do que a do próprio Portugal, a Inglaterra inundou o mercado brasileiro com seus produtos. Em contrapartida, importava pouquíssimo do Brasil para privilegiar o que vinha das colônias inglesas.
Já Portugal, que tinha no Brasil um dos seus principais mercados consumidores, viu seus ganhos caírem vertiginosamente. O Brasil serviu como moeda de troca de Portugal para garantir todo o apoio inglês necessário.
Toda a relação internacional aqui praticada visava o interesse de Portugal e não o da antiga colônia. Como disse o diplomata Paulo Roberto de Almeida: “a política externa da fase de pré-independência deve ser vista como expressão das relações internacionais no Brasil e não do Brasil”¹. Isso mudou com o processo de elevação do Brasil a Reino Unido.
Podendo manter total autonomia sobre suas decisões, o Brasil passou a ter mais força para questionar a interferência inglesa. Em ocasião da Independência, José Bonifácio foi firme ao negociar o reconhecimento do Império Brasileiro e negava-se a pagar uma dívida que comprometeria todo o país. E é aí que vem o grande erro de Dom Pedro I… Em 1825, depois de todas as guerras para expulsar os portugueses do país e toda a diplomacia que negava-se a aceitar as grandes quantias cobradas pela independência, Dom Pedro I acabou mudando a rota. Já sem José Bonifácio no cargo, ele negociou o pagamento de uma quantia estratosférica a Portugal pelo reconhecimento da Independência. Um valor exorbitante que, para ser pago, dependeu de um gigante empréstimo feito com a Inglaterra, jogando ao Brasil uma dívida enorme.
Este foi um dos maiores erros de Dom Pedro I durante a Independência. O Brasil já não tinha tropas portuguesas, a Inglaterra já estava impaciente para reconhecer o Brasil e manter a vantajosa relação comercial com ele e Portugal não tinha forças para algum tipo de contestação mais ofensiva. Então por que o imperador cedeu em um acordo nada vantajoso sendo que toda a força estava ao seu lado na negociação?
Honestamente, não é possível enxergar isso se não como um erro de um imperador que na hora mais importante, se cercou de covardes e acovardou-se. Oliveira Lima foi cirúrgico ao dizer: “A compra da independência por 2 milhões esterlinos, depois de ela ser um fato consumado e irrevogável, foi um estigma de que a monarquia justa ou injustamente nunca pôde livrar-se no Brasil e cuja recordação pairou sobre o trono até os seus últimos dias”².
Além do mais, este erro não saiu impune. Como disse muito bem Manchester: “O preço da Inglaterra pelo seu reconhecimento da independência do Império constituiu um sério fator responsável pela queda do fundador da nação brasileira.³” Bom, assim concluo este texto tendo neste momento uma base histórica para o argumento usado por Sir. Winston Churchill: “Não se negocia com um tigre quando a sua cabeça está dentro da boca dele”, sempre que um país se põe em uma posição de fraqueza e desespera, a sua soberania passa a estar completamente comprometida. Autor: Luiz Ottoni - Professor de História e TikToker
Citações:
1- ALMEIDA, Paulo Roberto. Formação da diplomacia econômica no Brasil: as relações econômicas internacionais no império. São Paulo: Senac, 2001.
2- LIMA, Manuel de Oliveira. O reconhecimento do Império. Rio de Janeiro: H, Garnier, 1901.. Chapel Hill: The University of North Carolina Press, 1933 3- MANCHESTER, Alan K. British preeminence in Brazil: Its rise and decline
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