O coletivismo é um vício político que desvaloriza o indivíduo e a comunidade ao mesmo tempo. Ele faz com que a nossa identidade seja prostituída ao ponto de nós não termos mais ideias próprias e corrompe a nossa comunidade em tribos que se odeiam.
O garoto William Kamkwamba vivia em uma pobre vila na região do Malawi, na África. Em um certo dia, ocorreu uma inundação que destruiu as plantações locais. Curiosamente, depois dos problemas trazidos pelo excesso de água, a vila passou a sofrer com o exato oposto, a seca.
A seca era tão severa que não se tinha água nem para plantar o básico. Essa situação fez com que muitas famílias começassem a definhar de fome. Sem saber como solucionar o problema, as pessoas entraram em desespero. Muitos passaram a roubar comida das casas que ainda possuíam algum tipo de estoque e a grande maioria enxergou no governo a solução para esse mal.
Porém, a cena onde o governo atuou de maneira mais evidente foi quando em meio da comício do presidente, o chefe da comunidade foi espancado por pegar o microfone e falar umas boas verdades.
O Governo, que comemorava aos quatro ventos as benécies da democracia, nada mais fez do que calar uma voz dissonante e negligenciar a dor alheia.
Tem uma cena que é magnífica. O pai de William, um homem presente e dedicado à família, decide trocar o esforço local por uma participação na manifestação da oposição. Contudo, a fome começava a tomar a vila e as pessoas estavam saqueando e roubando qualquer grão que estivesse à vista.
Então, um homem invadiu a sua casa e roubou os seus grãos das mãos de sua mulher que, com medo, se preocupou em defender suas filhas e aceitou que não havia a possibilidade de defender bens materiais.
Enquanto isso, William esforçava-se para conseguir comprar grãos subsidiados pelo Governo que, novamente, prestou uma pequena ajuda à população. O distanciamento do pai da causa local, em busca de soluções em âmbito nacional, apenas gerou o saqueamento da pouca comida que eles tinham.
Durante todo o filme “O Menino que Descobriu o Vento", que é baseado em fatos reais, foi agoniante ver como aquela sociedade buscava ajuda no Estado e simplesmente não encontrava uma resposta efetiva. E é claro que essa solução também não veio de grandes empresas ou de alguma ONG. Ela veio do lugar mais inusitado de todos.
O próprio William, usando dos conhecimentos que adquiriu na escola próxima à vila, bancado pelos pais que sob muito esforço conseguiram pagar ao menos a matrícula e ajudado pela bibliotecária que fornecia-o os livros e interagia com o menino, inventou um catavento capaz de alimentar a bateria da bomba de água. A construção do catavento foi por mão de obra voluntária da própria comunidade.
Essa virada de chave, onde a solução veio de uma atitude local, de um simples garoto, enquanto grandes corporações não moviam uma palha para ajudar a vila, foi sensacional.
Aquela máxima de “aja localmente, pense globalmente”, nunca foi tão bem aplicada como neste caso. Quantas vezes não caímos no vício de achar que as melhores respostas virão de grandes empresas, dos Estados, ONG 's, partidos políticos e etc. e esquecemos do poder que o indivíduo, junto a uma comunidade, tem.
O coletivismo é um vício político que desvaloriza o indivíduo e a comunidade ao mesmo tempo. Ele faz com que a nossa identidade seja prostituída ao ponto de nós não termos mais ideias próprias e corrompe a nossa comunidade em tribos que se odeiam.
Através da Educação, do amor pelo local em que vivia e apoio da comunidade, William Kamkwamba mudou a sua vida e a de muitas outras pessoas. Essas são as benécies de um sistema descentralizado que valoriza os indivíduos e as iniciativas locais.
A comunidade não deve ser vista como um ser que supera e substitui o indivíduo, mas sim um conjunto de indivíduos que, identificados por interesses em comum, se amem e se protejam.
Aqui eu não quero dizer que os Estados, empresas e ONG’s não possuem um relevante papel social, porque possuem. O problema está quando eles são quase que transformados em entidades religiosas e depositamos alguma fé de que é função deles resolver problemas que seriam muito melhor solucionados localmente.
Daí concordamos em enviar a maior parte dos recursos para uma cidade a quilômetros de distância da nossa e permitimos que ela decida o que vamos fazer com os problemas que vivemos diariamente e eles sequer sabem que existem. Essa é uma das reflexões que este belo filme me trouxe.
Seja em questões econômicas, ambientais, educacionais, de saúde, enfim, a ação local e a compreensão de cada circunstância, como diria Ortega y Gasset, é essencial.
Deixe nos comentários se você já assistiu a esse filme e qual reflexão ele te trouxe.
Autor:
Luiz Ottoni - Professor de História graduado pela UFMG e produtor de conteúdo educacional na Beduka.
Não assisti o filme, porém fiquei bem estimulado à ver. Como o paternalismo e a centralização de um Estado, uma ONG ou uma figura que seja, são problemáticas para o estímulo de emergências e soluções "autônomas e locais". Espero ver a obra o quanto antes.