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Foto do escritorLuiz Ottoni

O que é o homem cordial? Entenda esse conceito.

O homem cordial é um conceito utilizado por Sérgio Buarque de Holanda no livro Raízes do Brasil para se referir à natureza com predominância emocional dos brasileiros. No âmbito social, os brasileiros agem de maneira mais emotiva do que racional, trocam a polidez pelo excesso do afeto e encontram no grupo uma fuga da individualidade. São mais coração e menos razão. É o significado deste conceito que vamos compreender hoje.

Basta clicar em qualquer um desses tópicos para ir direto a ele:

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O que é o Homem Cordial?


Você provavelmente já viu algum gringo comentar que o que chamou a atenção dele nos brasileiros foi a forma generosa no trato, a hospitalidade e o afeto. Bem, para alguns, isso pode ser sinônimo de polidez e etiqueta, porém, Sérgio Buarque pontua que isso é justamente o contrário.


Essa maneira muito afetiva do brasileiro gera um estranhamento em pessoas do exterior, por exemplo, alguns japoneses enxergam nesse comportamento algo similar a como eles tratam as divindades no Xintoísmo.


Isso, para o autor, não é sintoma de polidez, mas, na verdade, do seu oposto. A polidez é uma estratégia racional onde a pessoa cria uma espécie de película que preserva o indivíduo enquanto ele está em contato social. Já o brasileiro faz o contrário, se entrega de tal maneira ao social e expõem o indivíduo sem nenhum tipo de controle, com zero de polidez.


Deixa a razão de lado e se entrega conforme a emoção. Com o pavor de ter que estar consigo mesmo, ou de encarar a própria individualidade, ele se enxerga e se define a partir da sociedade, é um animal essencialmente social.


Citando Nietzsche, Sérgio Buarque diz: “Vosso mau amor de vós mesmos vos faz do isolamento um cativeiro”. Sem encarar a própria individualidade, fugimos da solidão e buscamos a muvuca, corremos do protocolo e abraçamos o improviso emotivo. Isso é o que nós somos, o homem cordial. O homem que prioriza a emoção sobre a razão, o coração sobre a mente.

Frase sobre o que é o homem cordial no livro Raízes do Brasil escrito por Sérgio Buarque de Holanda

Exemplo do Homem Cordial


O autor traz, no capítulo 5, três interessantes exemplos sobre como esse conceito de homem cordial se demonstra na realidade.


Em primeiro lugar, ele conta um caso de um negociante que veio da Filadélfia, chamado André Siegfried, que para vender a um freguês no Brasil, você precisa antes transformá-lo em um amigo.


Acho difícil alguém que não tenha passado por isso: chegar em uma feira e os comerciantes te tratarem como grandes amigos. “Marajá”, “mestre”, “meu consagrado” e por aí vai…


Em segundo lugar, ele aponta para a intimidade que temos com os santos da Igreja. Muitas vezes chamando eles pelo diminutivo e tratando-os como amigos próximos.


Em terceiro, talvez o exemplo mais bizarro de todos, onde ele conta que nas festas do Bom Jesus de Pirapora, em São Paulo, ao final da procissão, Jesus Cristo descia da cruz e começava a sambar no meio das pessoas. Algo nem um pouco ritualístico.


Como esse conceito pode ser útil?


São vários os usos que esse conceito pode receber. Quando falamos de patrimonialismo, que é o uso pessoal de recursos públicos, a emotividade brasileiro está diretamente ligada. Sem ligar para o ritual, ele age da maneira em que sente, usando o patrimônio público para favorecer aqueles de quem ele gosta. Dando aí espaço para o sucesso do filhotismo, clientelismo e mandonismo.


O filhotismo é quando uma autoridade escolhe aqueles nas quais ela protegerá e favorece como se fosse sua prole.


O clientelismo é o fenômeno onde forma-se essa rede de protegidos e o mandonismo é quem exerce o poder por meio dessas redes.


Além do mais, esse conceito pode ser aplicado em diversas outras situações que vão desde uma interpretação sociológica ampla do que é o brasileiro até manifestações corriqueiras do dia a dia.


É isso que faz do Sérgio Buarque de Holanda um intelectual de tão alto calibre, ele consegue interpretar a realidade e, mesmo errando como qualquer pessoa, consegue criar uma análise onde, após fecharmos o livro, enxergamos a sua teoria na realidade.


Autor: Luiz Ottoni - Historiador e produtor de conteúdos educacionais.


Referências:


HOLANDA, Sérgio. RAÍZES DO BRASIL. 27a edição. São Paulo: Companhia das Letras, 2014. p. 169 - 182


1.849 visualizações2 comentários

2件のコメント


Vinicius Alves
Vinicius Alves
2021年6月11日

Mano, excelente texto, explicações e exemplos muito interessantes e próximos de nossa realidade. Obrigado pela partilha do seu conhecimento.

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Luiz Ottoni
Luiz Ottoni
2021年6月13日
返信先

Agradeço muito pelo comentário, que bom que gostou. Os exemplos são retirados do próprio autor e são muito bons mesmos haha.

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